Dom Casmurro

Machado de Assis escrevia suas maravilhosas obras para que fossem lidas a cinqüenta ou cem anos depois. Homem culto e intelectual, e ao publicar o romance Dom Casmurro, tornou-se o maior escritor brasileiro. A obra publicada em 1900 em meio a uma sociedade muito fechada, marcada por preconceitos impostos a mulher, é uma obra aberta, onde o personagem Bento Santiago, o narrador da própria história, uma pessoa culta, com discernimento, esperteza, sensibilidade e malícia, relata somente o que ele presencia. Contudo, em alguns momentos Bento abre espaço exclusivamente para o sentimento doentio e obsessivo do ciúme, que o faz perder a razão e a lógica, e o leva a acreditar numa traição que nunca existiu. Como acontece com a personagem shakespeariana, “Otelo”, onde Desdêmona é acusada injustamente de adultério e movido pelo ciúme, Otelo resolve puni-la tirando-lhe a vida.
Bento Santiago apresenta-se inicialmente um menino inocente, disposto a seguir os desejos e vontade de sua mãe Dona Glória, que havia feito a promessa de torná-lo padre. Mediante a conversa que Bentinho escuta de Jose Dias e sua mãe atrás da porta, então, descobre a paixão por aquela que virá a ser seu grande e único amor.
Em meio a encontros e desencontros o mesmo já mostra-se muito ciumento. No seminário, basta somente um comentário de Jose Dias sobre Capitu: “Tem andado alegre, como sempre; é uma tontinha. Aquilo enquanto não pegar algum peralta da vizinhança, que case com ela...” (Cap. 62, pag.152), para Bentinho sentir se dominado por um sentimento cruel e desconhecido, o ciúme.
Conversando com Capitu na janela, um jovem passa a cavalo e olha para ela que retribui o olhar, isso é o suficiente para Bento sentir-se encarcerado pelo ciúme e imaginação: “... eu falava-me, eu perseguia-me, eu atirava-me a cama e rolava comigo, e chorava..., ...duas vezes dei por mim mordendo os dentes, como se a tivesse entre eles...” “...a vontade que me dava era cravar-lhe as unhas no pescoço, enterrá-las bem,