desordem da autonomia peter burger
Peter Bürger1
Não há como evitar a utilização de considerações dialéticas
Tradução: Heloísa Jahn
para fins restaurativos
(Adorno).
De algum tempo para cá, sociólogos e filósofos têm mostrado uma tendência para classificar a sociedade atual como "pós-industrial" ou "pósmoderna"2. Por mais compreensível que seja o desejo de destacar o presente da era do capitalismo avançado, os termos escolhidos também são problemáticos. Uma nova época se instaura antes que se chegue a formular — quanto mais resolver — a questão de quão decisivas são as alterações sociais do momento, e se seria o caso de estabelecer-se uma nova fronteira de época. Além disso, o termo "pós-modemo" apresenta o inconveniente adicional de nomear o novo período de forma apenas abstrata. Há outro inconveniente ainda mais drástico. Claro, podem-se observar profundas alterações econômicas, técnicas e sociais em relação à segunda metade do século XIX, mas o modo predominante de produção continua sendo o mesmo: apropriação privada de mais-valia produzida coletivamente.
Os governos democráticos da Europa Ocidental aprenderam com toda clareza que, malgrado o peso crescente da intervenção governamental em questões econômicas, a maximização do lucro continua sendo o motor da reprodução social. Por essa razão, nossa atitude deve ser de cautela na interpretação das atuais mudanças, evitando defini-las prematuramente como sinais de uma transformação capaz de configurar uma nova época.
Também em arte, falar em "pós-modemo" apresenta as mesmas falhas do conceito sociológico de "pós-modemo". A partir de umas poucas observações bastante acuradas, postula-se prematuramente um limiar de
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(1) Desde que os movimentos de vanguarda históricos acabaram com a confiança na arte enquanto esfera de pura experiência estética, a questão de como lidar com a arte tornou-se controversa.
Tentei analisar essa questão sistematicamente em meu livro Zur Kritik der
Idealistischen