Democracia Racial: o ideal, o pacto e o mito

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Democracia Racial: o ideal, o pacto e o mito
“O mytho é o nada que é tudo
O mesmo sol que abre os céus
É um mytho brilhante e mudo...”
Fernando Pessoa

Antonio Sérgio Alfredo Guimarães
Departamento de Sociologia, USP
Resumo:
Examino, neste texto, a expressão “democracia racial” e sua disseminação. O argumento central é de que ela foi usada por ativistas negros, políticos e intelectuais para designar um ideal de convivência interracial e um compromisso político de inclusão das massas negras à modernidade brasileira do pós-guerra. Todavia, o golpe militar de 1964 e o regime político que lhe segue rompem com tal compromisso, evidenciando uma cisão que já transparecia nas diferentes posições em relação ao colonialismo português na África e ao movimento de identidade cultural africana. A denúncia da democracia racial como mito dá-se, portanto, no contexto das críticas à democracia política como farsa e passa a ser a principal arma ideológica dos negros para ampliar sua participação na sociedade brasileira, nos anos 80, seja em termos materiais ou culturais. A releitura antropológica atual do “mito da democracia racial” nada mais é, pois, que uma tentativa de restabelecer, no plano teórico, a especificidade das relações raciais brasileiras, mormente a contradição entre suas normas e práticas.

Os estudiosos das relações raciais no Brasil ficam sempre intrigados com a origem e a disseminação do termo “democracia racial”. A começar pelo simples fato da expressão, atribuída a Gilberto Freyre1, não ser encontrada em suas obras mais importantes e de não aparecer na literatura a não ser tardiamente, nos anos 50.
Ademais, porque empregar uma metáfora política para referir-se às relações sociais entre brancos e negros? Porque tal locução passou a exprimir tão perfeitamente um pensamento que conceitos anteriores, cunhados pelos cientistas sociais – como
“sociedade multirracial de classes”, empregado por Pierson (1942) ou “relações raciais

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