Cruzadas Cec Lia Morrisson

40094 palavras 161 páginas
Guerra santa ou luta armada?
As cruzadas, que tiveram início no século XI, nos fazem lembrar o quanto são antigos os conflitos entre o Oriente e o Ocidente.
O que era primeiramente um enfrentamento entre cristãos e muçulmanos pelo controle da Terra Santa transformou-se em uma luta sangrenta pelo domínio de territórios e rotas de comércio, gerando intolerância, ódio e enfrentamentos que se arrastam até os dias de hoje.

INTRODUÇÃO O termo “cruzada” é raro e recente: não aparece no latim medieval antes da metade do século XIII e seu correspondente árabe (hurub assalibiyya = a guerra pela cruz) data somente de 1850. De fato, aos olhos dos orientais, as cruzadas permaneceram durante muito tempo como simples guerras iguais a tantas outras iniciadas pelos francos.1 Já estes, que eram antes de tudo peregrinos, se consideravam como “soldados de Cristo” e “marcados pelo sinal da cruz”
(crucesignati, em italiano), sendo a partir desta última expressão que se formou, por volta da metade do século XIII, o termo “cruzada” (também do italiano cruciata). Os textos medievais em geral designam essas expedições como “a viagem de Jerusalém” ou “o caminho do Santo Sepulcro” (iter hierosolymitanum, via Sancti Sepulcri, em latim) e, já no começo do século XIII, quando o movimento se tornou mais regular, sob o nome de “passagem” (que podia ser “a pequena passagem”, “a grande passagem” ou “a passagem geral”). Subjacente a todas essas expressões se encontra a idéia da peregrinação: Joinville fala sobre “a peregrinação da cruz”.2 Ainda no século XIV, quando o Ocidente renuncia de fato, senão de direito, à reconquista de Jerusalém, as cruzadas são referidas pelo nome de “viagem a ultramar”. Entendemos aqui por cruzada, seguindo a orientação de H. E. Mayer e J. Richard, uma peregrinação de cunho militar decidida por um papa que concede a seus participantes privilégios temporais e

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