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Cristina Pompa

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“De tais povos na infância não há história: há só etnografia”. Se a famosa frase de Francisco Adolfo de Varnhagen resume o projeto de exclusão dos índios da história geral do Brasil, ela funda, paralelamente, um hiato disciplinar que define e delimita claramente as atribuições de uma e de outra disciplina. O projeto de Brasil que deslegitimava a presença indígena na história nacional negava, ao mesmo tempo, a própria possibilidade de uma “história indígena” e, portanto, de uma “historiografia indígena”. Paralelamente, a etnografia era definida enquanto disciplina pela própria a-historicidade de seu objeto, incumbida de transcrever a imagem de um eterno presente, na melhor das hipóteses, ou, na pior, realizar o registro já museográfico de um passado já remoto. Essa imagem dos índios sem história, construída no século XIX, permaneceu durante décadas, adentrando no XX, fortalecida pela própria natureza das fontes documentais que, no caso brasileiro, não possuíam a mesma densidade e, sobretudo, o mesmo estatuto daquelas utilizadas para a história dos índios nos outros países latino americanos – história esta que se confunde frequentemente com a própria história nacional.
Por um lado, desde Varnhagen e Von
Martius, os índios não tinham lugar na his-

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tória, a não ser como ancestrais míticos da nação e, por isso mesmo, definitivamente relegados a uma temporalidade outra em relação ao processo/progresso histórico e social do país. Por outro lado, também a etnologia, quer na vertente marcada pelo paradigma da aculturação, quer na sincronia das abordagens estruturalistas, resumia a história dos índios à “crônica de sua extinção”1 ou a desconsiderava, tratando-a como elemento necessariamente alheio, exógeno e perturbador.
Lançando mão de fontes inéditas e de uma releitura cuidadosa de documentos já conhecidos, as pesquisas históricas das últimas décadas estão procurando