Como Definir Literatura
Sérsi Bardari (fev. 2012)
Definir literatura é tarefa, se não de todo impossível, um tanto quanto complexa.
Tentativas de conceitualizar o fato literário surgiram na Antiguidade grega nos séculos V e IV
a.C. Exemplo disso são as obras Arte Retórica e Arte Poética, de Aristóteles, ainda hoje fundamentais para o estudo da literatura, como explica Amora1:
[...] se quiséssemos definir, em termos essenciais, o sentido das especulações literárias dos gregos, poderíamos dizer que elas se voltaram, primeiro, para o problema da caracterização da obra literária, com o que se procurou, então, distinguir a literatura da não-literatura; em segundo lugar, para a formulação de um conjunto de preceitos que deviam ser seguidos pelos escritores [...].
Conforme ensina Eagleton2, de maneira apressada, é possível definir literatura como escrita “imaginativa”, no sentido de ficção – escrita esta que não é literalmente verídica. Mas tal definição não procede na prática.
Ilíada e Odisseia, por exemplo, obras que inauguram a literatura ocidental, mesclam relatos das guerras por conquistas de territórios na Grécia antiga com narrativas mitológicas sobres os deuses do Olimpo, em técnicas narrativas bem formalizadas.
Entre os séculos XVI e XVII, os romances e as notícias não eram claramente fatuais nem claramente fictícios. Na história da literatura brasileira, por exemplo, obras como as de
Pero Vaz de Caminha, padre José de Anchieta e padre António Vieira são consideradas literárias, sem que sejam ficcionais na sua integralidade. À época, tanto José de Anchieta quanto António Vieira compreendiam suas reflexões filosóficas e teológicas como verdades, mas muitos estudiosos atualmente as leem como literatura.
Mesmo nos dias de hoje, se a literatura inclui muito da escrita fatual, também exclui uma boa margem de ficção. Os livros de Fernando Morais, autor de A Ilha, Olga, Chatô: o rei do Brasil, Corações sujos, entre outros, tratam de fatos