Carne e osso
Um exemplo desse viés é Carne Osso, dirigido por Caio Cavechini e Caio Juliano Barros, um dos destaques do 16º Festival É Tudo Verdade. O filme destrincha as condições de trabalho em alguns abatedouros e frigoríficos brasileiros, um tema pouco explorado e de raro interesse.
Em 2010, o Brasil se manteve líder de exportação de carne bovina no mundo com 1,7 milhão de toneladas vendido para mais de cinquenta países. O lucro obtido na venda de aves e carne suína para a Europa e os Estados Unidos está na casa dos seis dígitos. Em resumo, é uma das principais forças da economia nacional e vedete da balança comercial junto com as commodities agrícolas. As boas condições do mercado, no entanto, nem sempre se equiparam às de trabalho nos abatedouros.
Segundo dados da Previdência Social apresentados por Carne Osso, cerca de 750.000 pessoas trabalham no setor expostas a riscos três vezes maiores que a média registrada em outras categorias. O alto índice está no manuseio de objetos perfuro-cortantes, nas lesões corporais por esforço repetitivo e nos danos psicológicos.
Para efeito de comparação, a medicina do trabalho considera 35 movimentos com a mão o número limite que um trabalhador pode desempenhar por minuto na sua atividade. Em um frigorífico de médio porte, a média é de 80 movimentos por minuto para a desossa de uma sobrecoxa de frango. O trabalho funciona como uma poupança de danos futuros.
As condições precárias alimentam uma cadeia de prejuízos para o trabalhador, o estado e o contribuinte. A demanda permanentemente ajustada para cima para atender aos compradores exige do trabalhador esforços que podem causar danos físicos e psicológicos a