Brasil Crioulo- Darcy Ribeiro O Povo Brasileiro

O engenho açucareiro que foi a primeira grande empresa agroindustrial exportadora, na era do Brasil Crioulo, serviu como instrumento de viabilização do empreendimento colonial português, e ao mesmo tempo matriz do primeiro modo de ser dos brasileiros; Época que não se imaginava a ocupação europeia de uma vasta área tropical, sem riquezas minerais por descobrir, habitada por indígenas que apenas lograram construir culturas agrícolas e que não constituíam uma força de trabalho facilmente disciplinável e explorável. Bem aventurado, a cana de açúcar precisava apenas de terras tropicais férteis e frescas, e o engenho, construído com madeiras e ferros, fazia do caldo de cana o produto mercantil. Ao serem transplantados aos espaços brasileiros, os engenhos e canaviais, se multiplicaram rapidamente.
Não se imaginava que um produto tão exótico e precioso poderia expandir-se tanto causando um decréscimo em seu preço, e tornando-o acessível a todos os gêneros de consumidores, transformando-o em um produto comercial comum.
Surgidos antes de 1520, os primeiros engenhos de açúcar brasileiro rapidamente se espalharam pelo Brasil. Após meio século, os engenhos haviam se multiplicado tanto que a produção brasileira de açúcar era a principal mercadoria do comércio internacional. Nas décadas seguintes, apesar da guerra, da resistência dos negros de Palmares e da ocupação holandesa, a economia açucareira e seus complementos cresceram mais ainda.
Em 1650, a propagação se desacelera e a economia açucareira cai em crise devido à nova produção de engenhos holandeses das Antilhas, no entanto, os brasileiros continuaram mantendo as antigas colônias.
A massa humana organizada em função do açúcar se estrutura em uma formação econômico-social incomum às americanas e às europeias, muito mais singela. Nela, a forma de existência, a organização da família, a estrutura de poder não eram criações históricas oriundas de uma velha tradição, mas meras resultantes de opções exercidas para dar