Biografia Camus
(1913 – 1960)
Fonte: Camus, Albert. Estado de Sitio; O estrangeiro.
São Paulo: em Abril as Cultural. ca 1979
De um lado, a pobreza de um meio operário, a estreiteza de uma casa de cômodos, a rigidez de uma disciplina imposta para fazer render o suado pão de cada dia, as condições de sobrevivência restritas ao essencial. De outro lado, a exuberância de uma paisagem luminosa, a imensidão de um mar eternamente azul, vislumbrado desde a esquina de cada rua, explodindo sem cessar sobre as areias sem fim. Como um luxo supérfluo nesse esbanjamento de beleza, as ruínas romanas desafiam o tempo e parecem lembrar a mortalidade dos homens. Sua lembrança, entretanto, é igualmente supérflua: por falta de bens imprescindíveis, morre-se muito cedo — e morre-se jovem — nessa terra onde tudo convida a viver.
Nascido e criado entre contrastes fundamentais, Albert Camus desde cedo aprendeu que a miséria engendra uma solidão que lhe é típica, uma austeridade toda sua, uma desconfiança da vida — mas a paisagem desperta uma rica sensualidade, uma eufórica sensação de onipotência, um orgulho desmedido de possuir a beleza inteiramente gratuita. Esse aprendizado, feito a meio caminho entre a miséria e o sol, levou-o à consciência do que existe de mais trágico na condição humana: o absurdo, essa irremediável incompatibilidade entre as aspirações e a realidade.
Do pai, Lucien, o escritor não guardou nenhuma lembrança, porque, na verdade, nem chegou a conhecê-lo: depois de mourejar anos a fio numa vinicultura de Mondovi, Argélia — onde Camus nasceu, aos 7 de novembro de 1913 —, o humilde lavrador foi dar sua vida no sacrifício da batalha do Marne, mal começava a Primeira Guerra Mundial. Albert cresceria sob os cuidados da mãe, Cathérine Sintès, uma marroquina de origem espanhola, dos tios e do irmão mais velho, Lucien como o pai.
A família, pelo lado paterno, vinha da Alsácia, França, de onde emigrara em 1870, quando a região