Atendente
O tema de Saturno está relacionado, segundo Freud, com a melancolia e a destruição e estes traços estão presentes nas pinturas negras. Com expressão terrível, Goya situa-nos frente do horror canibal das fauces abertas, os olhos em branco, o gigante envelhecido e a massa informe do corpo sanguinolento do seu filho.
O quadro não somente alude ao deus Chronos, que imutável governa o curso do tempo, senão que também era o reitor do sétimo céu e padroeiro dos septuagenários, como o era já Goya.
O ato de comer o seu filho foi visto, do ponto de vista da psicanálise, como uma figuração da impotência sexual, sobretudo ao compará-lo com outro dos afrescos que decoravam a estância, Judite e Holofernes, tema pictórico no qual a bela judia Judite convida o velho rei assírio Holofernes, então em guerra contra Israel, para um banquete libidinoso e, após se unir sexualmente, decapita-o.
O filho devorado, com um corpo já adulto, ocupa o centro da composição. Assim como na pintura de Judite e Holofernes, um dos temas centrais é o do corpo humano mutilado. Não somente o é o corpo atroz do menino, mas também, mediante o enquadre recolhido e a iluminação de claro-escuro extraordinariamente contrastada, as pernas do deus, sumidas a partir do joelho na negrura, num vácuo imaterial.
Emprega uma gama de brancos e negros, aplicada em manchas de cor grossas, só rota pelo ocre das carnações e a chama fúlgida em branco e vermelho da carne viva do filho. Sánchez Cantón comparou-o com o que pintara Rubens em 1636 para a Torre da Parada do Palácio de El Pardo de Madrid. No seu estudo assinala como a violência do de Goya é muito superior, despojado do seu pretexto de mitologia, prefigurando com isso o expressionismo.
Outra análise pode ser feita, se tomando por base a mitologia grega onde a imagem que se tem de Chronos