artigogiovanachiquim
7474 palavras
30 páginas
LITERAFRO - www.letras.ufmg.br/literafroEscravidão em Pauta: Uma Análise das Crônicas de Machado de Assis e
Lima Barreto que Apresentam A Figura do Negro na Sociedade Brasileira
Giovana Chiquim
Machado de Assis e Lima Barreto foram autores bastante conscientes das condições de produção da época em que viviam e, inclusive, tinham uma visão bem nítida do seu público leitor. Esses escritores fizeram parte de uma geração de literatos que encontrava nos jornais um espaço mais acessível para a divulgação de seus escritos, já que naquela época a edição de livros era restrita. Ambos compreendiam que o folhetim, “pedaço de página por onde a literatura penetrou fundo no jornal” (Arrigucci, 1987, p. 57), era observado pelo público como um meio de entretenimento e talvez como acesso de algum conhecimento. O folhetim nasceu na França no início do século XIX e foi rapidamente incorporado pela imprensa brasileira. Era publicado em tiras, no rodapé da primeira página do jornal. O conteúdo estava relacionado a comentários culturais sobre livros, filmes e peças de teatros, romance publicados em episódios, piadas e até mesmo receitas de cozinha. Desta forma, os textos de Machado de Assis e Lima Barreto divulgados nos folhetins não eram dirigidos para a crítica literária, mas para alcançar o leitor comum homens e mulheres que formavam uma classe burguesa ascendente durante o período oitocentista, no tocante a Machado, e à sociedade capitalista da primeira fase do Brasil republicano, no que diz respeito a Lima Barreto.
Entre todos os gêneros literários percorridos pelos dois autores e publicados no folhetim, a crônica se destaca por ser uma forma de literatura que joga luz em um fragmento da realidade. Uma combinação de texto jornalístico e literário, a crônica pode ser ficcional, mas mesmo a partir de personagens inventados, seu objetivo é retratar uma cena do cotidiano comum. Mais do que os contos e romances, ela chama a atenção do público para temas menos candentes (já que os