Arte como experiência
Por Ana Beatriz Duarte
Se julgar apenas o título, um desavisado pode achar que "Arte como experiência", de John Dewey, da Editora Martins, se trata de um livro sobre teoria estética contemporânea, escrito por algum jovem autor. Mas o volume, embora só agora traduzido na íntegra e lançado em português, foi escrito há quase 80 anos. Já ciente disso, a confusão poderia, ainda assim, persistir: Dewey de fato comunga com os contemporâneos de ideias bastante atuais. Por exemplo, atribui ao espectador um papel ativo na formação da obra, lugar explicitado em obras ditas participativas a partir da década de 1960. Para Dewey, o fruidor da arte teria uma função criativa nas experiências em geral, e na da arte em particular. A recepção estética, para ele, é uma ação de recriação do processo de produção. O artista cria apenas o "produto artístico", diz o autor. A "obra de arte" é o que ele provoca em quem o experimenta.
Talvez nosso leitor hipotético também pudesse esperar, já sabendo que o texto é de um dos grandes fundadores da filosofia pragmatistav- criada ao lado de Charles S. Peirce e William James no final do XIX nos Estados Unidos -, uma interpretação um tanto darwinista da história da arte (ao estilo greenberguiano - quem sabe? - 20 anos antes do próprio). Mas, embora os pragmatistas tenham sido de fato influenciados pelas ideias de Charles Darwin, compartilham com ele apenas o consequencialismo, ou seja, o princípio de fazer afirmações apenas a partir de efeitos já dados, não a concepção de melhoria contínua em geral atribuída à teoria científica. Mesmo acreditando que as mudanças concorrem para um desfecho final, apontado no futuro, a antimetafísica de Dewey o defende de uma possível intenção moral que poderia equivocadamente lhe ser atribuída. Como bom pragmatista, não está interessado em julgar, mas em entender como uma obra chega à condição de arte. "[A