Aceitar

É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar.
É melhor tentar, ainda que em vão que sentar-se, fazendo nada até o final.
Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias frios em casa me esconder.
Prefiro ser feliz embora louco, que em conformidade viver.
Martin Luther King

Estaquei no tumulto da Sé no horário de pico e alguns também pararam, outros apenas retardaram a marcha para contemplar por breves segundos e então seguiram em frente e houve aqueles que nem viram o homem que tocava piano e cantava tão belamente sem que, no entanto, sua voz sobressaísse ao burburinho da estação. Fiquei ali inquieta sem saber se prosseguia ou não e ponderei.
Não havia nada que me apressasse como os outros, se eu ainda estivesse indo a faculdade seria um motivo para estar ali, mas abandonei a algumas semanas e o semestre já devia ter acabado, vai saber. Também não tinha motivos para chegar rápido em casa por que o fato de eu ter saído de lá a três dias e voltar apenas hoje seria um assunto e tanto para mais uma das varias discussões que tive com minha mãe nas ultimas semanas.
Não sei dizer que musicas eram aquelas, mas fiquei ali até que o musico levantou-se, pegou sua mochila aos seus pés e saiu andando e eu fui, enfim, embora na direção contrária.
Eu morava ali no centro desde que meus pais divorciaram-se e viemos morar aqui e já estou acostumada com o cheiro nauseabundo de excrementos humanos que impregnava a praça e ruas daqui assim como também me acostumei com o movimento constante que só cessa nas tardes de domingo.
Eu resido com Suzana, minha mãe, na Quintino Bocaiuva, em um pequeno apartamento de poucos cômodos apenas pela facilidade que ela tem, numa cidade caótica como aqui, em ir até o trabalho no mesmo quarteirão.
Ela era uma boa mãe e não tem culpa pelo que eu tenho feito, talvez seja minha natureza aflorando. Sempre tive personalidade e gênio, mas era boa filha, só que agora eu me sinto tão mal, tão sem animo e não quero cair em depressão