879135 HRI Texto Obrigat Rio 03 Portugal E O Atl Ntico O Significado Do Imp Rio Leonor Freire Costa

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Discurso proferido no simpósio internacional »Novos Mundos – Neue Welten.
Portugal e a Época dos Descobrimentos« no Deutsches Historisches Museum, em
Berlim, 23 a 25 de Novembro de 2006.
Todos os discursos estão publicados em alemão no catálogo da exposição com um resumo em língua portuguesa.

Portugal e o Atlântico: o significado do império

Leonor Freire Costa
Instituto Superior de Economia e Gestão
Departamento de Ciências Sociais – História
Universidade Técnica de Lisboa

Num livro de culinária de uma das infantas de Portugal, D. Maria, filha do rei D. Manuel (1492–1517), sugere-se que a carne de aves, porco ou de carneiro fosse servida em calda de açúcar apaladada com canela ou gengibre, numa exuberância de sabores que o império português, simultaneamente atlântico e oriental, oferecia1. Não seria só à mesa do rei que se diversificavam os paladares.
Pelas ruas de Lisboa, em 1552, vendia-se toda a espécie de doçarias na quadra do
Natal. E embora o preço das iguarias as limitasse a fregueses abastados, o negócio ambulante assinala a vulgarização do consumo de açúcar2. Definitivamente, o produto saía dos circuitos estritos das prescrições medicinais que o caracterizaram na Idade Média e entrava nos hábitos da população europeia. No final do século
XVII, em Londres, Amesterdão ou Paris, a proliferação de espaços públicos destinados ao consumo de café, chá, ou cacau, pressionaria de forma ainda mais significativa a oferta de açúcar. O aumento do rendimento médio da população tinha os seus efeitos na mudança dos costumes e nas sociabilidades urbanas. Mas a generalização destes hábitos e o que eles diziam da importância do Atlântico na

2 economia europeia encetara-se duzentos anos antes, quando a Península Ibérica traçou no oceano uma trama de rotas comerciais a unir quatro continentes.
Falar do Atlântico no império português transporta-nos para uns quantos tópicos decorrentes deste crescente gosto pelo consumo de açúcar.

O mapa político da Península Ibérica

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