400 contra 1
Baseado no livro autobiográfico homônimo, de William da Silva Lima, o filme marca a estreia em longas de ficção de Caco Souza, curtametragista, documentarista e diretor de comerciais. Um dos curtas de Souza, Senhora Liberdade, de 2004, já abordava a história de Silva Lima, um dos fundadores do Comando Vermelho.
A trama de 400 Contra 1 se passa entre 1971 e 1980, respectivamente, os anos em que o futuro CV começou a se organizar no presídio da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e em que realizou os assaltos a banco que tornaram a facção conhecida no noticiário. Silva Lima, o Professor, interpretado por Daniel de Oliveira, é quem articula as bases do que o CV transformaria em lema: Paz (não trazer diferenças da rua para a prisão), Justiça (olho por olho, dente por dente) e Liberdade (a fuga como objetivo principal).
O filme aproveita um período fundamental da história criminal do país - os anos em que os futuros CVs dividem espaço com presos políticos na Ilha Grande durante da ditadura - para antepor a "ética" dos presos comuns à falta de escrúpulos da repressão. Se filmes como Quase Dois Irmãos recorrem ao episódio para fazer uma reflexão sobre a sociedade brasileira, 400 Contra 1 se contenta em um usá-lo para heroificar o CV.
Até aí, nada de anormal. Dos gângsteres da Era da Lei Seca aos Zé Pequenos recente, o cinema sempre se especializou em glamourizar o vilão. A confusão que 400 Contra 1 faz - a partir daquele desejo de prestar contrapartidas com todo mundo - é misturar a catarse do crime com o discurso político.
Mal comparando, é como se os Onze Homens de George Clooney gozassem da riqueza usurpada de Las Vegas em protesto contra o capitalismo.
A trilha sonora de 400 Contra 1 organizada por Max de Castro está cheia de hinos suingados da