O porco espinho
O filme O porco espinho, inicia-se com o discurso da adolescente Paloma, de 11 anos, diante da decisão de suicidar-se no dia de seu 12º aniversário. Paloma, apesar de ser de uma família rica, relata que há muito tempo já sabe seu destino: viver em um aquário, um mundo onde os adultos esmagam as moscas no vidro. Escondida de sua mãe, registra em vídeo sua decisão e, a partir daí, começa a registrar o cotidiano de sua família, como um diário da vida que ela repudia.
Normalmente encontramos os registros do cotidiano adolescente expresso em diários, principalmente no caso das meninas (este comportamento não é comum para os meninos). Apesar de escolher fazer este registro através da câmera, ainda sim Paloma consegue dar significação aos seus registros, consegue assimilar e compreender os comportamentos, assumindo uma postura crítica em relação as sua família, o que no final será extremamente importante para a elaboração de sua subjetividade e individualidade. Ao determinar o dia de sua morte, Paloma o faz como um ritual de passagem, atribuindo a este feito a concretização de um ato heróico, levando em conta outras mortes exaltadas socialmente. Ela deseja que essa passagem tenha um significado, que ela esteja fazendo algo de valor social ao mesmo tempo em que mostre ao mundo a futilidade de sua vida familiar. “O importante não é morrer nem quando se morre. É o que se está fazendo naquele exato momento.” O filme de Paloma estava sendo feito para mostrar ao mundo como a vida das pessoas e a sua própria era absurda, era seu Everest, seu ato heróico, “Quando nada faz sentido, a cabeça tem que dar conta”.
Paloma se encontrava em um momento crucial, ainda que na sociedade em que estava inserida não existisse um rito de passagem, ela sentia que ao completar 12 anos passaria a fazer parte do mundo dos adultos e se negava a fazê-lo. Ao optar pelo suicídio acreditava que estava apenas pulando uma etapa, iria direto