O "outro" em Iararana

627 palavras 3 páginas
O “OUTRO” EM IARARANA1
Karoline Vital Góes2

Iararana oferece aos leitores um novo ponto de vista a respeito da colonização do Brasil – especificamente a chegada dos portugueses no litoral do município baiano de Belmonte – dando voz a seres míticos autóctones que habitavam rios e matas. Através de personagens e vocabulário repleto de coloquialismos e termos regionais, a obra de Sosígenes Costa reforça a valorização da identidade local e evidencia a violência dos europeus no processo de ocupação das terras.
Segundo Carvalho (p. 6), a “outrização” pode ser definida como “processos pejorativos e hierárquicos no modo de representação do ‘outro’ subalterno pelo colonizador”. Todavia, Iararana inverte tal premissa, apresentando como o “outro” justamente o colonizador europeu, retratado como o ser bárbaro da narrativa. A obra poderia se encaixar na classificação de “outrização produtiva”, conforme também sugere Carvalho (p. 8) como “contraponto à mera outrização, uma vez que aponta para uma atitude ressignificadora da história e da cultura, no contexto dos encontros culturais, em um mundo que se consolida como interligado”.
A subalternização do europeu em Iararana ocorre na maneira que ele retratado, como um ser moralmente inferior, de valores desprezíveis e atos de violência.
Era branco e bonito, mas gostava de judiar.
Porque não achou aqui com quem pudesse se casar judiava da gente e fez índio escravo dele.
E mandava caboco limpar a roça dele.
(COSTA, 1979, p.39)

Em contraposição, a Iara, que é violentada e presa pelo colonizador, é descrita como alguém nobre, de sangue limpo e puro, quando o narrador fala ao Menino do Céu, descendente do filho da mãe-d’água com um índio das matas.
Menino do céu, você tem sangue de mãe-d’água.
Teu sangue bom é sangue do rio sangue caboco com sangue do rio sangue mais limpo que o da falsa iara que puxou ao bicho e tem sangue runhe.
(ibidem, p.93)
Já a Iararana que intitula a obra, é o fruto da violação da mãe-d’água indígena Iara

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