O mito fascista da romanidade

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O mito fascista da romanidade
Foto Agência France Presse

ANDREA GIARDINA

Benito Amilcare Andrea Mussolini (1883-1945), primeiro-ministro da Itália.

Disciplina e poder
MITO

de Roma foi utilizado por Mussolini, com múltiplas referências positivas, já antes da transformação do fascismo de movimento em partido.1 Estava claro, desde o princípio, que o modelo de comportamento proposto para os militantes fascistas valia, em perspectiva, para toda a sociedade.
A adoção de símbolos e ritos romanos, como o fascio littorio, a saudação com a mão estendida e a marcha cadenciada, permitia qualificar, com eficácia, uma especificidade fascista, apresentando-a, porém, ao mesmo tempo, como especificidade da nação.
A saudação fascista – braço direito levantado com a palma da mão em posição estendida –, usada originalmente pelos legionários da expedição em
Fiume de Gabrielle D’Annunzio, encontrava correspondência em um amplo repertório iconográfico romano, mesmo se não faltam atestações numerosas de uma saudação idêntica na arte grega. Na sociedade romana, os significados para

O

ESTUDOS AVANÇADOS

22 (62), 2008

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esse gesto, que não era o único gesto de saudação, nem o mais difundido, eram variados e mudavam segundo os contextos. Prevalece, porém, na escultura e nas representações monetárias, um significado augural, sem nenhuma conotação estritamente política.
No ritual fascista esse assume, ao contrário, uma forte conotação política e ideológica, porque indicava uma adesão ao partido impregnada de caráter guerreiro. Ele era também exaltado pela sua maior higiene e pela sua rapidez, que bem exprimia o dinamismo fascista. A assunção dessa saudação (depois retomada pelo Deutscher Grüss nazista) entre os cânones do estilo fascista trouxe graves conseqüências para a imagem difundida da romanidade: em muitos filmes de tema romano, mesmo recentes, esse gesto aparece como uma espécie de marca antropológica, exibida de forma paroxística, em toda

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