o homem do principio ao fim
O HOMEM DO PRINCÍPIO AO FIM
Millôr Fernandes
(Projeção de imagem de uma nebulosa desfocada. Faz foco sobre imagem de uma explosão atômica. Fade out. Música. Imagens de guerreiros Watusi em danças típicas.)
CORO - O meu pai! lá! lá! lá!
CORO - Quando eu for homem eu vou ser caçador.
Quando eu for homem eu vou ser baleeiro.
Quando eu for homem eu vou ser canoeiro.
Quando eu for homem eu vou ser carpinteiro.
Quando eu for homem eu vou ser... UM HOMEM
CORO - Ó meu pai! lá! lá! lá! (Sobre a última imagem da repetição, fade-out e logo blecaute. Luz sobre Sérgio Brito.)
Primeira Parte
DEMÉTER - “Da minha varanda percebo um movimento em um ponto do mar; é um homem nadando. Nada a uma certa distância da praia, em braçadas pausadas e fortes. Acompanho o seu esforço solitário, como se ele estivesse cumprindo uma bela missão. Já nadou em minha presença uns trezentos metros; antes, não sei. Duas vezes o perdi de vista, quando ele passou atrás das árvores, mas esperei com toda confiança que reaparecesse sua cabeça e o movimento alternado de seus braços. Mais uns cinqüenta metros e o perderei de vista, pois um telhado o esconderá. Que ele nade bem, essa distância: é preciso que conserve bem a mesma batida de sua braçada e que eu o veja desaparecer assim como vi aparecer, no mesmo rumo, no mesmo ritmo, forte, lento, sereno. E então eu poderei sair da varanda tranqüilo: “Vi um homem sozinho, nadando no mar: quando o vi ele já estava nadando; acompanhei-o com atenção durante todo o tempo, e testemunho que ele nadou sempre com firmeza e exatidão; esperei que ele atingisse um telhado vermelho, e ele o atingiu”.
Não desço para ir esperá-lo na praia e lhe apertar a mão: mas dou meu silencioso apoio, minha atenção e minha estima a esse desconhecido, a esse nobre animal, a esse homem, a esse correto irmão” 2) (Luz