O Excedente Econômico na Economia da Autogestão
Martín Andrés Moreira Zamora1
RESUMO
O objetivo do trabalho é apresentar como os associados dos empreendimentos em autogestão se apropriam do excedente econômico, nela gerado, comparando este processo com a apropriação capitalista de mais-valia e observando a influência da autogestão na distribuição deste excedente entre os cooperados. Percebe-se que quanto maior for a democracia interna de um empreendimento econômico solidário, melhor serão distribuídas as sobras e retiradas a partir de critérios fixos de participação no trabalho e não no capital.
Palavras-chave: excedente econômico, economia solidária, autogestão.
Observamos no início do presente século o florescimento de inúmeras crises: crise da financeirização, crise dos alimentos, crise do meio ambiente. A principal economia do mundo, os
Estados Unidos, demonstra-se vulnerável na crise do subprime e contagia agora diversos países europeus que entram em recessão. Para o marxista húngaro István Mészáros (2002), este cenário é o recrudescimento da crise estrutural do capital.
A reação do capital à sua crise estrutural se dá no aumento da concentração e centralização do capital, operando cada vez mais em forma de oligopólios; na defesa da austeridade fiscal e consequente desmanche do chamado “estado de bem-estar social”, no aumento significativo do exercito industrial de reserva e na mundialização do capital2,
(CHESNAIS, 2001) seja esta produtiva ou financeira.
No Brasil, assim como em outros países, a economia solidária foi uma das alternativas encontradas por diferentes setores populares para enfrentar o desemprego e a falta de renda. Esta
1 Economista formado pela UFRGS. Compõe a equipe de implantação da fábrica autogestionária BR Envidrio.
E-mail: moreirazamora@gmail.com
2 Para Chesnais (2001), a mundialização do capital não se resume ao alcance global do modo de produção capitalista, sendo resultado de dois movimentos interligados,