A paixão segundo Max Weber

2204 palavras 9 páginas
A Paixão Segundo Max Weber
Gilberto de Mello Kujawski
O Estado de São Paulo – 30/03/1986

A paixão está fora de moda. Em nosso tempo, dominado pelos tecnocratas, pelas estatísticas e pelos cérebros eletrônicos, a conduta passional é mal vista, interpretada como prova de desenvolvimento emocional retardado ou incompleto. A paixão caiu no ridículo. É kitsch, diria algum poeta de vanguarda, com todo seu pedantismo terceiromundista. Palavras, gestos, atitudes passionais são hoje coisas de profundo mau gosto, assimiladas ao melo drama barato, reminiscências da ópera bufa, do antigo cinema mexicano onde as atrizes choravam lágrimas de vaselina. O pior é que os pedantes, os céticos e os apáticos que pensam assim estão até em boa companhia. Voltaire não morria de amores por Shakespeare, no qual o príncipe do iluminismo só enxergava “muito punhal e muito sangue”... As “boas companhias” nem sempre são as melhores.
Sim, a paixão está fora de moda. Mas a alegria de viver, o culto festivo da vida e dos sabores da vida, a radicação telúrica do homem, base do sentido da vida, também são coisas fora de moda. O gozo profundo, a dor dilacerante não se manifestam quando não há paixão. A paixão é o selo vivo e palpitante da auto-identidade, próprio do homem ou da que se assumem corajosamente a si mesmos. A tragédia significa a ruptura dolorosa dessa identidade. Por isso a nossa época, com todo seu cortejo de violências sociais, políticas, militares e criminais, não constitui em si mesma uma época Trágica. Onde não há paixão, ou seja, amor à própria identidade, não há tragédia.
As concentrações dos jovens que periodicamente se reúnem no mundo inteiro para cantar e dançar ao som infernal do rock não estão ali coletivamente dominadas por nenhum tipo de paixão arrebatadora, e sim pela compulsão do aturdimento, aquele aturdimento sensorial embrutecedor, que nada tem a ver com a paixão vital, em tudo análogo ao aturdimento provocado pela hipnose da TV, pela velocidade, pelos tóxicos,

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