A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA- O REGIONAL E O MÍTICO

A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA: O REGIONAL E O MÍTICO

João Guimarães Rosa é, antes de tudo, um autor regional, pois sua vasta produção literária assenta-se numa cosmovisão fiel do sertão mineiro. Apresentou seu espaço físico social e a linguagem oral do sertanejo, com seu ritmo, cadência e musicalidade.
Partindo do regional em seu projeto literário, Rosa alcança o universal, e é aqui que deteremos a análise do conto A hora e Vez de Augusto Matraga, que será organizada sob o ponto de vista da construção da personagem protagonista “Augusto Matraga”, a fim de verificarmos seu percurso mítico/existencial e sua transformação em relação aos espaços em que está inserido.
“Matraga não é Matraga, não é nada. Matraga é Esteves. Augusto Esteves, filho do Coronel Afonso Esteves, das Pindaíbas e do Saco-da -Embira. Ou Nhô Augusto, o homem”. (ROSA, 1991,p.341).
Por meio desse fragmento introdutório, o narrador apresenta ao leitor a personagem principal. Podemos evidenciar, então, que a personagem possui três nomes: Augusto Esteves, Nhô Augusto e Augusto Matraga, que designam três níveis opostos de seu comportamento, simbolizam três elementos naquele que é um, formando um todo de sua existência.
O conto também se estrutura em três espaços, que, no desenrolar da ação narrativa, assumem papéis grandiosos, pois estão intimamente ligados à trajetória mítica e à transformação existencial de Augusto Matraga.
A primeira parte do conto se realiza no Arraial de Nossa Senhora das Dores do Córrego de Murici. Nesse ambiente, permeado por forças do mal, Nhô Augusto é símbolo máximo da valentia e do poder, sua superioridade econômica faz com que ele seja respeitado por todos os moradores do lugar e isso permite-lhe qualquer atitude, como arrumar confusão, tirar a namorada dos outros e apresentar total indiferença com a mulher e a filha. Nosso herói, portanto, goza, no início da obra, de grande reputação e fortuna e cegado de forma completa, não tem olhos para a ordem natural, agindo