a arte
Sonia Borges
RESUMO:
Este texto discute uma possível aproximação entre os processos de subjetivação que, segundo
Bacon, suportam a formalização de suas obras e, os que Lacan descreve como inerentes ao ato analítico: a destituição subjetiva na sua relação com a angústia e a fantasia.Parece-nos que propor uma homologia entre estes processos pode ser um caminho produtivo para a apreensão do que o trabalho de Bacon pode trazer de contribuição para a reflexão psicanalítica.
PALAVRAS-CHAVE: Subjetivação. Destituição Subjetiva. Angústia. Fantasia. Francis
Bacon.
É doutora em Psicologia da Educação pela PUC/São Paulo, membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do
Campo Lacaniano e professora do programa de mestrado “Psicanálise, Saúde e Sociedade” da Universidade
Veiga de Almeida. É autora dos livros: “O quebra cabeça: a alfabetização depois de Lacan” (Editoras Associadas das Universidades Católicas), “Psicanálise, linguística, linguisteria” (Ed. Escuta) e organizadora de “PsicanáliseInterdisciplinaridade” (Armazém digital Ed.). E-mail: sxborges@uol.com.br
Psicanálise & Barroco em revista v.8, n.2: 38-48, dez.2010
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Francis Bacon: destituição subjetiva e formalização da obra de arte
“Eu pinto a violência do real”, dizia Bacon ao crítico de arte David Sylvester
(2007), a quem concedeu entrevistas por mais de vinte anos. Telas enormes, imagens extravagantes, cores de Almodóvar, o estilo único de Bacon, por sua desmedida, torna impossível a sua categorização, conforme Escola ou Movimento da Historia da Arte. Em seu trabalho com os pincéis, Bacon não dispensa Apolo, mas, serve a Dionísio. É ele próprio que reconhece a sua filiação à tragédia grega, ainda que, também ao teatro de Beckett, trágico moderno. Nas entrevistas a Sylvester, o pintor fala de arte, e particularmente da sua arte, de forma fascinante, buscando descrever os processos de subjetivação que suportam o