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O Espelho
Machado de Assis

Numa noite, em uma casa situada no morro de Santa Tereza, iluminada apenas por velas e pelo luar, estavam cinco cavalheiros discutindo sobre vários assuntos do universo. Desses cinco cavalheiros apenas quatro conversavam o quinto, Jacobina, de mais ou menos cinquenta anos era o único que não discutia, estava calado, parecia cochilando e vez ou outra dava um resmungo de aprovação. O fato de Jacobina não discutir não era por ser sem instrução, mas por acreditar que discutir era um ato bestial e que serafins e querubins, sinônimo da perfeição espiritual, nunca discutiam. Desafiado por um dos seus companheiros a provar que anjos não discordavam achou por melhor assumir que estava equivocado para não discutir.
No meio da noite, Jacobina resolveu falar e desenvolveu seu assunto por mais de meia hora, falando principalmente sobre a natureza da alma, esse assunto dividiu radicalmente a opinião dos amigos e isso causou um debate pelas várias questões abordadas.
Pediu uma opinião à Jacobina, ele, no entanto, como não discutia, concordou em falar, contudo ninguém deveria interromper, nem fazer nenhum tipo de comentário.
Então ele explicou que cada pessoa tem não só uma alma, mas sim duas. Explicou-lhes que uma alma olha de dentro pra fora e outra de fora pra dentro. Contou-lhes que cada homem expressa sua segunda alma de formas diferentes e que algumas pessoas podem ter várias durante a vida.
Para poder provar aos companheiros, contou-lhes um caso que lhe ocorreu quando tinha vinte e cinco anos e havia sido nomeado alferes da guarda municipal. Sua mãe de tão feliz com sua nomeação passou a chamá-lo de seu alferes. Todos na vila onde morava ficaram felizes, com exceção de alguns que, durante alguns dias ficaram olhando torto, sem falar com ele, não gostando de sua nomeação.
Sua tia D. Marcolina, o chamara para uma visita, e qual não foi sua surpresa quando ela dissera-lhe que ele não iria embora antes de pelo menos um mês. Sua tia também