vozesem willian wilson

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As vozes em William Wilson: uma análise da polifonia em Poe a partir de um enfoque psicanalítico 1
Gisele Fernandes Loures Domith2

RESUMO: Neste artigo apresento um recorte da pesquisa Polifonia em Poe: um enfoque psicanalítico, em que analisei o fenômeno discursivo da polifonia no texto literário de Edgar Allan Poe, tendo como corpus cinco contos: “William Wilson”, “A queda da casa de Usher”, “Ligéia”, “O retrato oval” e “A máscara da morte rubra”
(LOURES, 2003), enfocando os processos identificatórios a partir da Análise do Discurso da corrente históricoideológica (PECHÊUX, 1998, 2001, 2002) em interface com a psicanálise lacaniana (LACAN, 1992, 1998).
Palavras-chave: Análise do discurso; polifonia; sujeito; discurso literário; Edgar Allan Poe

Introdução
Esta pesquisa originou-se do interesse em estudar o fenômeno da polifonia em manifestações discursivas na narrativa de Edgar Allan Poe, enfocando os processos identificatórios a partir da Análise do discurso francesa e da Psicanálise.
O fenômeno discursivo da polifonia pode ser entendido como o próprio caráter dialógico, por isso heterogêneo, da linguagem, uma tessitura de vozes de outros no discurso de um sujeito (BAKHTIN, 1992). Como o sujeito é constituído na e pela linguagem, ele é, portanto, efeito dessas vozes (PÊCHEUX, 2000; LACAN, 1998). Essas vozes evidenciam formações discursivas que indicam o lugar a partir do qual o sujeito fala: ideologias, sua história, elementos culturais, etc. (Brandão, 1993, p. 38). Contudo, não há um continuum sócio-histórico-ideológico no discurso, assim, pode-se dizer que não há uma única formação discursiva e, portanto, há diferentes articulações para um (mesmo ou outro) dizer. Isto implica uma pluralidade de sentidos, polissemia sempre à deriva.
Dadas essas propriedades constitutivas do discurso, a ilusão do falante que crê em um dizer homogêneo, controlado por si, esbarra nos efeitos das contradições recuperáveis na superfície do dizer, a partir

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