Tropicália

Tropicália Pau-Brasil: aspectos modernistas dos tropicalistas

O objetivo deste curto ensaio é estabelecer uma conexão entre os dois manifestos seminais do modernismo (o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, de 1924; e o Manifesto Antropofágico, de 1928, ambos de autoria de Oswald de Andrade), e o discurso lírico (letras) das músicas do movimento tropicalista, em particular da música Tropicália, de Caetano Veloso.
Os manifestos não foram inaugurais do modernismo, como não foi inaugural da Tropicália a música de mesmo nome. Nos dois casos, já havia um movimento em curso, obras pregressas, por assim dizer, e esses manifestos e música foram senão um catalisador, um instigador de consistência para esses movimentos.
Interessante notar que o tropicalismo é, evidentemente, um dos “herdeiros” do modernismo, e que a definição de Haroldo de Campos em seu texto Uma poética da radicalidade (1966) parece poder incluir como próximo passo o movimento tropicalista:

“a revolução (...) foi a poesia ‘pau-brasil’, donde saiu toda uma linha de poética substantiva, de poesia contida, reduzida ao essencial do processo de signos, que passa por Drummond na década de 30, enforma a engenharia poética de João Cabral de Melo Neto e se projeta na atual poesia concreta.”

Nessa qualidade de herança e semelhança, podemos começar notando que não há como escapar a relacionar a primeira estrofe da letra de Tropicália com os primeiros poemas de Pau-brasil, de Oswald; em ambos os casos temos uma remissão infalível àquela que é a primeira carta escrita no Brasil, a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, quando do “descobrimento” do país. E do mesmo modo, em ambos os casos, temos uma certa subversão da própria carta, seja com um recorte cuidadoso, no caso de Oswald, ou com um verso trazendo a carta para um contexto moderno, na letra de Caetano.
A segunda e terceira estrofes da letra apresentam, já, as contradições brasileiras (“sobre a cabeça os aviões / sob os meus pés os chapadões”) e