Transexualidade
LATINOAMERICANA F U N D A M E N T A L DE PSICOPATOLOGIA
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Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., IV, 2, 92-112
Transexualismo: uma visão psicanalítica*
Luzia Aparecida Martins Yoshida, Cláudia B.D. Pereira, Lívia M. de Sousa, Silvana M.R. Poncio Klein, Silvia N. Cordeiro
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Neste trabalho, analisamos o transexualismo dentro de uma abordagem psicanalítica, a partir do atendimento de um adolescente transexual. Subsidiando nossa discussão, apresentamos resumidamente algumas teorias sobre o assunto e alguns tópicos teóricos da psicanálise. O caso estudado sugere que nesse distúrbio a pessoa faz uso de mecanismos egóicos defensivos muito primitivos, que visam protegê-la de uma desorganização psíquica. Palavras-chave: Transexualismo, desenvolvimento psíquico, identidade, estados primitivos da mente
* O presente artigo é baseado na monografia “Minha vida em cor-de-rosa e preto: um estudo sobre o transexualismo”, apresentada ao curso de Especialização em Psiquiatria e Psicologia Clínica da Adolescência, do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas/ UNICAMP, das mesmas autoras.
ARTIGOS
Introdução Embora tenham existido ao longo da história diversas manifestações de pessoas que se sentiam pertencentes a outro sexo (Ceccarelli, 1997), só em meados do século XX esse fenômeno recebeu o nome de transexualismo (Júnior, 1996). A concretização do desejo de pertencer, não apenas psíquica, mas também fisicamente, ao sexo oposto, através de cirurgias, só ocorreu em 1931 e até 1951 repetiu-se poucas vezes (Ibid.). Dos anos 1960 até hoje, o transexualismo tem se tornado merecedor de atenção por parte de estudiosos, pois embora continue raro, é um fenômeno cuja manifestação desperta muito interesse e curiosidade, principalmente por levar o indivíduo a ponto de sofrer uma alteração corporal irreversível. Essa é uma característica muito peculiar, considerando que tal alteração não é feita em qualquer