Trabalho de Literatura Portuguesa II
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno:
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:
Devoto incensador de mil deidades,
(Digo de moças mil) num só momento
Inimigo de hipócritas, e frades:
Eis Bocage, em quem luz algum talento:
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia, em que se achou cagando ao vento.
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/wk000242.pdf
Neste soneto, Bocage põe-se como personagem poemática para falar de si mesmo, mas não especificamente em 1ª pessoa. Este é um poema com características de cantigas de escárnio como o forte tom satírico a si mesmo e a crítica ao outro.
No primeiro quarteto, descreve-se fisicamente magro, moreno, de olhos azuis, de pés grandes e estatura média, triste de figura, o que posso entender por semblante descaído, apagado, talvez, e de grande nariz.
Já no segundo quarteto, o autor descreve seus aspectos psicológicos, seus modos de pensar sobre si mesmo e suas características emocionais ou sentimentais, além de exprimir seu modo de pensar o mundo. Identifica-se como um ser inconstante quando diz: “Incapaz de assistir num só terreno”. Interpreto-o como alguém que sente a súbita necessidade de mudar de local, necessidade contínua de deslocar-se tanto física como psicologicamente. Noto também que o eu lírico se caracteriza como alguém mais irascível do que carinhoso e sem estabilidade moral.
A seguir, demonstra certo estado de perturbação ou reflexão da alma, o que é característico da escrita deste autor, aparentemente angustiado com seus questionamentos nos versos: “Bebendo em níveas mãos por taça escura / De zelos infernais letal veneno”.
No primeiro terceto, o autor revela-se propenso a amores curtos e intensos no verso: “(Digo de moças mil) num só momento” e revela-se também