entrevista
jean-françois chanlat
Destacado professor francês de gestão fala sobre como
avaliar uma carreira bem-sucedida, as mudanças nas
empresas e sobre a importância de equilibrar vida pessoal
e profissional em um mundo cada vez mais competitivo
p or Maria EstEr DE FrEitas
62 v ol.7
n º1
j an/fev 2008
entrevista: jean-françois chanlat
aprincipal mudança das carreiras nas
últimas décadas é terem sido “privatizadas”. Na
época da carteira de trabalho assinada, carreira era
sinônimo de cargo. Isso significava que a empresa
responsabilizava-se pelo destino do profissional –
promoções, aumentos de salário e até mesmo a
escolha do momento para aposentadoria. Hoje, ao
contrário, o controle da carreira foi transferido para
o indivíduo. Asituação gera questões inéditas, como
a necessidade de permanente automonitoramento, a
perda de garantias e previsibilidade, a possibilidade
de rupturas e fragmentação na trajetória profissional. Mas também traz vantagens, como maior autonomia e independência em relação ao empregador.
Esta entrevista aborda temas como qualidade de
vida, sucesso profissional, individualização das carreiras,idade e progressão profissional.
Nos anos de 1990 o senhor organizou,
com enorme sucesso, o livro o indivíduo
na organização – Dimensões Esquecidas.
Em sua avaliação, as grandes transformações ocorridas nas sociedades e
organizações nos últimos anos teriam
produzido novas dimensões?
As transformações ocorridas após a
publicação desse livro não questionaram os elementos ali apresentados.Acredito
que a linguagem, os símbolos, a inveja, o tempo,
o sofrimento, as identidades, as realidades culturais, a neurose profissional, a heterofobia e o
racismo, entre outras, continuam sendo dimensões atuais no estudo das organizações. Digo
mais: essas dimensões ganharam ainda mais força
hoje, em virtude da influência de novas práticas
de gestão, da fragmentação do espaço-tempo provocadapelas tecnologias de informação e também
em virtude do que chamamos de globalização das
trocas. Seja como for, eu acrescentaria agora
outras dimensões que se tornaram igualmente
críticas, como a ambiental e a ética.
JFC:
Em linhas gerais, quais são os principais
desafios enfrentados hoje pelos
administradores? ou, de outra forma,
qual o futuro da gestão?
Os gestores são confrontadospor
desafios de três tipos: econômico,
social e ambiental. O primeiro diz respeito à
continuidade da atividade produtiva em um
contexto submetido à lógica acionária de curto
prazo. Trata-se, nesse caso, de conseguir produzir um bem ou serviço de qualidade que responda a demandas originadas, ao mesmo tempo, de
clientes, usuários e cidadãos. O segundo desafio
tem a ver com o reconhecimento daimportância
das pessoas pela organização, ou seja, parece
JFC:
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Quais seriam as bases para uma
gestão do futuro? o discurso sobre a
sustentabilidade é apenas uma moda?
podemos ir além do discurso?
Se partirmos dessa idéia de triplo
desafio, as bases de uma gestão do
futuro devem levar em conta alguns elementoschave para o sucesso socioeconômicode uma
organização. Entre esses elementos, a atenção ao
pessoal, o estabelecimento de referências, o cuidado com o trabalho bem-feito, o espírito de
inovação e o cuidado com as questões sociais e
ambientais exercem um papel determinante.
Assim, se levarmos a sério o discurso do desenvolvimento sustentável, sua prática no quotidiano
irá mudar o nosso modo de vida e a maneira
como nosorganizamos. Ela nos levará a inovar
em muitos setores, especialmente na avaliação da
JFC:
“
”
ação das empresas. Se não nos engajarmos nesse
caminho, iremos nos defrontar com problemas
muito sérios. Nesse sentido, creio que é preciso
adotar a postura do filósofo francês Jean-Pierre
Dupuis, a de “catastrofismo esclarecido”, ou seja,
a de tomar consciência da amplitude do problema e de...