Skare Twain

4996 palavras 20 páginas
Verdade e Pesadelo em O Estranho Misterioso de Mark Twain
Nils Goran Skare1

Resumo
Este artigo analisa a novela O Estranho Misterioso de Mark Twain à luz do pensamento de três teóricos: Jacques Lacan, Jacques Derrida e Julia Kristeva. Do primeiro extraímos o nó borromeano e elementos de sua semiótica; do segundo noções de suplemento, clausura e différance; da terceira a analítica das práticas de significação. Com isso elaboramos um conceito próprio de ritmo. Abordando a obra identificamos o personagem Satan como significante-fálico e o sonho como significante-mestre. Elaboramos então o ritmo de cada um, o que nos leva à afirmação lacaniana de que “a verdade é estruturada como ficção”, bem como à análise do texto como pesadelo. Concluímos comentando o contraste no ritmo satânico que impulsiona a narrativa e a espectralidade do ato de ler, além de notas para traduções e estudos posteriores.

Palavras-chave: Mark Twain; O Estranho Misterioso; Lacan; Desconstrução; Ritmo.

1. Introdução
O chamado Sutra do Diamante, que teria sido proferido por Buda, é um dos mais antigos exemplos de textos onde podemos encontrar um questionamento sobre a natureza da realidade em si. Um trecho ao fim do diálogo entre Buda e Subhuti traz estas belas metáforas: “Assim deveis pensar sobre este mundo efêmero:
Uma estrela ao amanhecer, uma bolha numa correnteza,
Um brilho de relâmpago numa nuvem de verão,
Uma lâmpada tremeluzente, um fantasma, e um sonho.”
(GODDARD, 2007, p. 161)

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Estudou Ciências Sociais e Letras (Português) na Universidade Federal do Paraná. Trabalha como editor e tradutor, tendo vertido para o português obras de E. E. Cummings e de August Strindberg.
Revista Anagrama: Revista Científica Interdisciplinar da Graduação
Ano 3 - Edição 4 – Junho-Agosto de 2010
Avenida Professor Lúcio Martins Rodrigues, 443, Cidade Universitária, São Paulo, CEP: 05508-900 anagrama@usp.br SKARE, N.G.

VERDADE E PESADELO...

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Tal tema aparece igualmente no Ocidente, particularmente na

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