Prefacio Psicologia Fenomenologico Existencial
Rumos da fenomenologia no Brasil
Luis Eduardo Franção Jardim
Falamos sempre a partir da linguagem.
Isso ignifica que somos sempre ultrapassados pelo que já nos deve ter envolvido e tomado para falarmos a seu respeito.
Martin Heidegger
A fenomenologia como fundamentação da prática em psicologia consolidou-se no Brasil entre as décadas de 1960 e meados de 1970. Nesses quase 50 anos, desde que a fenomenologia passou a ser estudada e pensada em sua contribuição à psicologia, muita coisa mudou no país. Neste período passamos por significativas mudanças históricas e políticas, a profissão do psicólogo foi reconhecida, cresceu e a própria prática clínica fenomenológica se desenvolveu e transformou-se largamente. Mas uma das mudanças mais relevantes, especificamente para a fenomenologia, é que hoje dispomos de diversos textos até poucos anos atrás ainda inéditos. Em sua maioria, estes textos ainda carecem de maior exploração. Neste contexto de intensas transformações, quais possíveis rumos parece que a fenomenologia está seguindo atualmente e quais desafios se fazem presentes?
Desde as primeiras décadas do século XX, psiquiatras europeus já questionavam o modo como tradicionalmente se pensava a “psique”. Tentativas de aproximação da prática clínica com a fenomenologia de Edmund Husserl já eram feitas desde a segunda década do século passado. Nomes como Karl Jaspers, Ludwig Binswanger, Eugene Minkowski e Viktor Emil Von Gebsattel não poderiam deixar de ser lembrados como pioneiros nessa tarefa.
Mas somente na década de 1940 que Binswanger e, posteriormente Medard Boss, entraram em contato com o pensamento de Martin Heidegger. A partir da fenomenologia hermenêutica do pensador alemão, ganha corpo o que viria a ser chamado Daseinsanalyse, a prática clínica fundamentada no pensamento heideggeriano.
Na segunda metade do século XX, as contribuições de Medard Boss para o desenvolvimento da Daseinsanalyse constituíram-se como passos essenciais