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Obra ambiciosa
A frase que melhor define o espírito e a ambição de Raízes do Brasil, certamente é: Vivemos entre dois mundos. Um definitivamente morto e outro que luta por vir à luz do dia. Recusando tanto o fascismo (e sua versão tupiniquim, o integralismo), quanto o comunismo, Sérgio Buarque deu alento a uma visão democrático-burguesa da história, num diagnóstico do "caráter nacional" que parte da avaliação do peso da herança do escravismo na sociedade brasileira.
Ele entrevia o processo de formação das classes trabalhadoras ainda tolhido por heranças da sociedade colonial escravocrata. Seu diagnóstico apontou o autoritarismo, a ausência de uma ética do trabalho, o gosto pelo ócio, o elogio da vida de grande senhor, como traços do caráter ibérico presentes no brasileiro e que se traduzem naquilo que aponta como nossa reduzida capacidade de organização social, a inclinação à anarquia e à desordem.
Proximidade com Gilberto Freyre
Em vários momentos, Raízes do Brasil parece repetir teses de Casa Grande & Senzala; compartilha com Gilberto Freyre a visão psicológica e culturalista da história, e se refere às "determinantes psicológicas" da expansão portuguesa na América; ao "exíguo sentimento de distância entre os dominadores, aqui, e a massa trabalhadora constituída de homens de cor", cujo resultado eram relações com os donos que variavam "da situação de dependente para a de protegido, e até mesmo de solidário e afim".
Idêntica é sua descrição do colonizador português, segundo a qual, mais do que nenhum outro povo da Europa cedia com docilidade ao prestígio comunicativo dos costumes, da linguagem e das seitas dos indígenas e negros. Diz também que o peculiar da vida brasileira parece ter sido, por essa época, uma acentuação singularmente enérgica do afetivo, do irracional, do passional, e uma estagnação, ou antes