Música das esferas

A Música das Esferas: até onde Pitágoras nos leva? A busca do valor da música inicia-se na Grécia antiga, que sempre tem sido uma referência para o Ocidente. A ciência deve muito aos pensadores gregos e o mesmo ocorre no que diz respeito à música. No contexto da organização social e política grega, acreditava-se que a música influenciava o humor e o espírito do cidadão, que colaborava na formação do carácter individual e da cidadania: “o valor atribuído à música era extramusical, isto é, o seu exercício contribuía para o desenvolvimento ético e integração do jovem na sociedade” (Fonterrada, 2003: 19). Tal como na filosofia grega de um modo geral, em Platão a música ocupa uma posição de destaque em relação às outras artes. Acreditava-se que seria possível estabelecer analogias entre as progressões musicais e o movimento da alma1. Pitágoras, contudo, foi ainda mais longe, pois acreditava também numa correspondência entre sons e fenómenos cósmicos. A doutrina derivada do pensamento de Pitágoras concebia a música como um sistema de sons regidos pelas mesmas leis que operavam na criação e no funcionamento do universo. O ponto máximo desse pensamento ficou conhecido como a harmonia das esferas ou, música das esferas. Essa proposta foi seguida e estudada ao longo dos tempos pela comunidade pitagórica, mas também foi objecto de interesse de muitos filósofos e cientistas até aos dias de hoje. Como seria de esperar, o enfoque atual dessa ideia adquire uma complexidade bem maior: a discussão já não se liga apenas a argumentos filosóficos, pois envolve perguntas às quais a própria ciência se mostra empenhada na procura de uma resposta satisfatória. Assim, o objectivo deste ensaio é confirmar o quão próximo da nossa realidade a música das esferas se encontra. Argumentado melhor sobre o seu conteúdo e considerando os recursos da ciência moderna, pretendo mostrar em que medida podemos sustentá-la, apoiando-nos em