MAURICIO

Duas questões serão enfatizadas para o esboço de uma contra-crítica à crítica que Marshall Sahlins faz a Foucault: Primeiro ponto, a idéia de que Foucault está se referindo a todo momento à sociedade burguesa ocidental e suas práticas e instituições. Portanto a construção de sua obra diz respeito a um espaço e tempo específicos. Segundo ponto, e o mais importante, Foucault trata da questão do poder de uma forma específica, que o difere da tradição filosófica política de tratar o poder como propriedade de pessoas ou classes, ou como aquilo que é fundamentalmente negativo e que limitaria a existência individual e social. Por outro lado, Foucault, ao falar sobre o poder se dirige para aquilo que fundamentalmente é seu objetivo, ou seja, a relação de saber-poder que constituem o sujeito.
Foucault avalia que, se por um lado, o sujeito é constituído a partir de imposições que lhe são exteriores, sendo compreendido como um produto das relações de saber e de poder; por outro, o sujeito é constituído a partir de relações intersubjetivas, em que há espaço para a manifestação da liberdade que possibilita a criação de si mesmo como um sujeito livre e autônomo. Em linhas gerais, Foucault estabelece uma tensão entre a constituição de um sujeito passivo assujeitado e de um sujeito ativo criador. Por isso, o poder, ou melhor, as relações de poder que permeiam as práticas dos indivíduos, não são fundamentalmente negativas, mas sim constituem o arcabouço a partir do qual as relações humanas são firmadas. Portanto, passíveis de alteração pelos próprios sujeitos, mediante uma renovação de suas práticas sociais e subjetivas. O interesse de Foucault, já em uma etapa final de sua vida intelectual, se localiza nas práticas de liberdade intrínsecas às relações de poder.
No centro da relação de poder encontra-se tanto o querer e a liberdade, quanto o controle e disciplina. Nessa perspectiva, a liberdade é pré-condição da existência de relações de poder e seu suporte permanente, pois,