Literatura

5150 palavras 21 páginas
Desvendando mitos
Em Iracema, a personagem se desloca do âmago da terra para o litoral e, à medida que se afasta do interior, começa a morrer, indicando a impossibilidade de se fixar uma origem pura para a nação. Sobreviverá aquele que nasce na praia, na linha de encontro entre o nativo e o português, o ser de fronteira, único ponto de partida possível para uma nacionalidade híbrida. O surgimento desse ser de fronteira exige, entretanto, o sacrifício da cultura indígena em prol da cultura do colonizador: é a marcha da história que guia os passos de Iracema e determina a sua morte, como etapa necessária do processo civilizatório. Martim conhece (no sentido bíblico) o corpo da terra/mulher e a partir daí legitima sua superioridade: conhecer o corpo de Iracema é tomar posse da terra, para imprimir-lhe uma outra marca, afastando-a dos caminhos traçados pela tradição de seu povo. É afirmar o poder que vai moldar um novo corpo, o de Moacir, impregnado de valores e propósitos diferentes daqueles que orientavam os indígenas. Iracema é metáfora da natureza, mas representa também a cultura de sua tribo, da qual abre mão. Por isso, ao contemplar Moacir, Caubi, irmão de Iracema, dirá: “Ele chupou tua alma (1965b: 1112).” Apesar de não ter privilegiado as tensões desagregadoras, a opção de Alencar pelo romance de temática indianista, bem como a defesa do abrasileiramento da língua portuguesa, geraram várias críticas a sua obra. Escolher o indígena como um dos elementos formadores da nacionalidade brasileira significava afirmar, de alguma forma, uma diferença irredutível entre nós e os europeus, que irritava os intelectuais de tendência ocidental, ainda que esse indígena fosse pintado com traços de cavalheiro medieval, pagando tributo ao eurocentrismo, pelo recalcamento da diferença - para se contrapor aos cronistas que viram os habitantes das terras americanas como bárbaros e ferozes, o escritor procurava provar a semelhança entre índio e europeu.
Além de alguns críticos

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