Japinto

984 palavras 4 páginas
RIO - O fotógrafo Sebastião Salgado descobriu que amava a mãe aos 15 anos, quando partiu pela primeira vez de Aimorés, no interior de Minas Gerais, com o objetivo de prestar concurso de cadete da Aeronáutica, no Rio. Depois de viajar 24 horas em trem e ônibus para fazer as provas, ele teria que ficar uma semana na cidade, à espera do resultado. Mas bateu uma saudade “tão grande” da mãe que o jovem foi embora, sem ter, até hoje, a menor ideia se foi aprovado ou não. Fez o percurso de volta, correu para a fazenda da família e, quando a mãe o avistou, da porta de casa, saiu correndo para abraçar o filho.
— Ela me deu um abraço tão grande, um negócio imenso na vida. Nessa hora descobri minha mãe, o meu amor por ela e o amor que ela tinha por mim. Naquele dia descobri a importância da minha mãe na minha vida — conta.
Esse relato não está em “Sebastião Salgado — Da minha terra à Terra” (editora Paralela). Nem esse nem um “punhado de outras histórias”, deixadas de fora do livro de 152 páginas, que chega às livrarias na terça-feira (o lançamento é na segunda, em São Paulo, às 12h30m, na Livraria Saraiva do Shopping Pátio Higienópolis, além de entrevista de Drauzio Varella com o fotógrafo no Teatro Eva Herz, às 19h30m).
Fruto de cinco encontros com a jornalista francesa Isabelle Francq — mas escrito em primeira pessoa, como autobiografia —, o volume lançado no ano passado na França, onde ele vive desde 1969 (com intervalo de dois anos em Londres), não tem a pretensão de esgotar a biografia do fotógrafo brasileiro mais conhecido internacionalmente. A ideia era apresentar o pano de fundo, as raízes pessoais, políticas e éticas que permitiram a produção de séries célebres como “Trabalhadores”, “Êxodos” e “Gênesis”. Se as fotografias de Sebastião Salgado corroboram a máxima “uma imagem vale mais do que mil palavras”, o livro funciona como um contraponto disso: é enriquecedor conhecer seus bastidores e as motivações do homem que as produziu, ao lado do caderno de imagens

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