história de canopus ecromos

24359 palavras 98 páginas
Histórias de cronópios e de famas
JÚLIO CORTÁZAR

1962

Nota da tradutora

Histórias de cronópios e de famas, o sexto livro de Júlio Cortázar, foi escrito em Roma e em Paris, no período de 1952 a 1959, e publicado em
1962, um ano antes de O jogo da amarelinha. A Encyclopédie Universalis
(Paris, 1970), que dedica mais de uma página a Cortázar, dando assim uma medida do prestígio internacional do escritor argentino, qualifica o livro como "desconcertante". E acrescenta: "Sobre um fundo de caricatura da vida em Buenos Aires, é uma seleção variada, insólita, de notas, de fantasias e de improvisações. Um humor melancólico, irônico ou violento, cheio de uma curiosa poesia, ali se desdobra num estilo carregado de imagens intensas e de achados verbais e psicológicos.”
O título é o mesmo no original em espanhol. A chave de que se necessita para penetrá-lo é universal. Que são cronópios? Que são famas?
O leitor irá descobrindo por si mesmo, à medida que entra no fundo fantástico desvendado pelo autor; e nisto achará um prazer que se renova a cada instante. Mas não será nenhum desmancha-prazeres adiantar alguns dados rápidos sobre as origens e o temperamento dessas fascinantes criaturas.
O próprio autor, uma noite em Paris, num concerto, assim descreveu os seus personagens: "Eram tão estranhos que eu não conseguia vê-los claramente, uma espécie de micróbios flutuando no ar, uns glóbulos verdes que pouco a pouco iam tomando características humanas." A força dos cronópios é a poesia. Eles cantam, como as cigarras, indiferentes ao prosaísmo do cotidiano; e quando cantam, esquecem

tudo, são atropelados, perdem o que levam nos bolsos e até a conta dos dias. Os famas são seres acomodados, prudentes, dados ao cálculo, e embalsamam suas recordações. Se a família vai se hospedar num hotel, mandam um na frente para verificar os preços e a cor dos lençóis. Os famas sabem tudo da vida prática, mas os cronópios sentem por eles uma compaixão

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