Fffeeerrrpppaaa

4581 palavras 19 páginas
ANO 3 – Nº 6

fevereiro 2002

DIÁLOGO SOBRE A ÉTICA

APRESENTAÇÃO

A presente edição de Instituto Ethos Reflexão expõe inquietações de dois autores quanto aos princípios que regem o comportamento ético. Por um lado, Mons. Carlo Maria Martini busca compreender a origem do comportamento ético que prescinde da crença em um “Mistério que transcende como fundamento de agir moral” e relata seu esforço para “captar nas expressões dos leigos algo que valha como razão profunda, e de algum modo absoluta, de seu agir moral”. De outro, Umberto Eco, ateu por opção, atribui ao reconhecimento do “outro”, aquele cujo olhar nos dá forma e identidade, como a base para o comportamento ético. A submissão a um valor absoluto não privou de delitos e culpas aqueles que crêem. O conceito de “outro” restrito a comunidades, etnias, castas, classes ou crenças, talvez venha redimindo a consciência de crentes e não-crentes. A ampliação do “outro” para além de limites próximos, o reconhecimento de sua importância e a “necessidade de respeitar nele aquelas exigências que para nós são inabdicáveis” resulta de um longo e conflituoso percurso. Entre avanços e retrocessos, o diálogo aponta a esperança de construir para o comportamento ético uma base sólida o bastante para guiar o adequado e coibir o inaceitável. Longe de encerrar a busca, o texto apresentado se constitui enquanto reflexão e talvez um convite. Boa leitura!

ONDE O LEIGO ENCONTRA A LUZ DO BEM?

Caro Eco,

eis-me com a pergunta que tinha em mente fazer-lhe já na última carta e que já lhe havia antecipado. Ela referese ao fundamento último da ética para um leigo, no quadro “pós-moderno”. Ou seja, concretamente: em que se baseia a certeza e imperatividade de seu agir moral que não pretende fazer apelo, para fundar o absolutismo de uma ética, a princípios metafísicos ou, de qualquer modo, a valores transcedentes e sequer a imperativos categóricos universalmente válidos? Em palavras mais simples (pois alguns leitores

Relacionados