Etica
Formação Profissional para uma intervenção ética
Prof. Dr. João Francisco Regis de Morais
Agora que vamos tratar de formação profissional e de intervenção ética, será bom antes atentarmos para uma pequena mas trágica carta encontrada em um campo de concentração e extermínio, no fim da IIª -Grande Guerra. O núcleo da carta é o seguinte:
“Prezado Professor, sou sobrevivente de um campo de concentração.
Meus olhos viram o que nenhum homem deveria ver.
Câmaras de gás construídas por engenheiros formados.
Crianças envenenadas por médicos diplomados.
Recém-nascidos mortos por enfermeiras treinadas.
Mulheres e bebês fuzilados e queimados por graduados de colégios e universidades.
Assim, tenho suspeitas sobre a Educação.
Meu pedido é: ajude seus alunos a tornarem-se humanos.
Seus esforços nunca deverão produzir monstros treinados ou psicopatas hábeis.
Ler, escrever e aritmética só são importantes para fazer nossas crianças mais humanas”.
(Dowbor, 2001: epígrafe).
É, esta carta, um tal libelo contra os tecnicismos e os cientificismos que traz-nos à lembrança a inesquecível afirmação de Montaigne: “Ciência sem consciência não é senão a morte da alma”, pois a consciência da ciência é a reflexão filosófica e, mais especialmente, aquela que prepara intervenções éticas.
Como se pode ver, estamos diante de um tema que, de forma acentuada nos dias de hoje, apresenta inequívoca urgência. Por esta mesma razão é um tema difícil, que deve ser construído como uma estrutura de cristal bela e frágil, mas transparente. O que quero dizer é que se trata de assunto que se presta a discussões cavernosas, obscuras e tecnicistas - em termos de linguagem; afasto-me, porém, dessas reflexões crípticas, exigindo de mim mesmo