Ensaio sobre Clarice Lispector
Bruna de Sousa Ferreira1
Clarice Lispector (1926-77) é um dos três principais nomes da geração de 45 e uma das principais expressões da ficção brasileira de todos os tempos. Quando publicou sua primeira obra, Perto do Coração Selvagem (1944), a escritora provocou verdadeiro espanto na crítica e no público. De romances, ela publicou nove: Perto do coração selvagem, O lustre, A cidade sitiada, A maça no escuro, A paixão segundo G.H., A hora da estrela e Um sopro de vida – Pulsações (publicação póstuma). Clarice também escreveu contos, crônicas, literatura infantil e exerceu o jornalismo redigindo colunas femininas, entrevistas e perfis de pessoas famosas para alguns dos jornais e revistas de seu tempo. Considerada uma das mais profundas e inventivas escritoras brasileiras do século XX, Clarice incide seu olhar sobre a vida por meio de uma literatura marcada pela expressão feminina e pela sua subjetividade. É sabido, pois, que a maior parte dos personagens – protagonistas dos escritos de Lispector são mulheres, e isso resulta numa reflexão da condição feminina no contexto delimitado pela narrativa, seja ela um conto, uma crônica ou um romance. A ênfase dada ao papel da mulher se sobressai e torna-se o objeto de análise mais recorrente na obra Clariceana. A leitura de Clarice não figura nas das mais acessíveis, pois inova na forma de (des) construir a linearidade da narrativa e concentra-se mais na força do inconsciente de seus personagens, extrapolando os limites psicológicos e estabelecendo monólogos interiores, introduzindo em seu discurso a “epifania”, muito associada e discutida quando se trata da autora. O conceito de “epifania” aplicado à literatura e segundo o crítico Affonso Romano de Sant’ Anna seria: “o relato de uma experiência que a princípio se mostra simples e rotineira, mas que acaba por apresentar toda a força de uma inusitada revelação.” A ocorrência da epifania, de modo geral, é o que vai