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Um homem bebendo em um bar, se mostra atormentado ao desabafar sobre a história de algo que mudou a sua vida para o garçom. Nomeava esse algo como “Ela”, se referindo a uma televisão. O garçom, sem nenhum interesse, mostra apenas profissionalismo ao perguntar se o cliente deseja mais alguma coisa, enquanto o homem continua ocupando o seu tempo. Fazia uma analogia entre o tempo e “Ela” enquanto contava desde a sua chegada e como a sua presença alegrou o seu único filho naquele tempo, que hoje já é o mais velho. No começo, ela ficava em um quarto nos fundos, uma vez que, apenas o filho tinha um interesse maior e já o homem e a esposa assistiam pouco.
O homem contava como a televisão foi tomando de conta da sua casa, uma vez que, depois de um tempo ela foi transferida para a copa e passou a ser utilizada todos os dias no horário da janta, pois era o horário em que passava um programa em que o filho gostava. Nessa época, o segundo filho já havia nascido e só comia quieto com o barulho dela.
O garçom já perdendo a paciência, avisava que o bar estava fechando. Mas o homem pedia outra bebida e insistia em contar a história. Queixava que o eletrodoméstico aos poucos foi mudando os hábitos da família. Depois de ser mudada para a cozinha, foi mudada para a sala, ato em que a sua esposa antigamente não admitiria por nada, pois iria estragar a decoração. Mas com o surgimento da telenovela “O Sheik de Agadir” de Glória Magadan exibida na Rede Globo, a televisão conseguiu encantar também a mãe e até mesmo a empregada. Até o filho menor que nasceu depois da criação de O Sheik de Agadir tinha o objeto como algo de grande poder. Quando a mãe brigava com ele, ele ia correndo para perto dela para se proteger.
Antigamente a família recebia muitas visitas, saia para cinema, teatro, jantar fora. E a mistura do telerreceptor com a telenovela fez com que tudo isso fosse ultrapassado. A família quase não conversava, e quando chegava visita eles achavam ruim, pois estaria os fazendo