cultura

A resposta de Júpiter: [pág. 20] não receies; porque os fados dos teus permanecem inalterados. Tu hás de contemplar a cidade e as prometidas muralhas de Lavínio (...) [[numa das muitas versões dos mitos de fundação de Roma, dizia que a cidade de Lavínio - na vizinhança de Roma - tinha sido fundada por Eneias. Era lá que se encontrava o túmulo de Eneias, precisamente]]. Este há de travar uma guerra tremenda em Itália (...) - Virgílio começa a fazer adivinhar o que será a parte desta epopeia que imita a Ilíada; um poema de guerra sobre as guerras em Itália. Eneias vai governar durante três verões e três invernos. Ascânio, filho de Eneias e Creúsa, também com o nome de Julo, vai governar durante 30 anos em Alba Longa. Lá, o poder régio vai exercer-se durante 300 anos completos, sobre o povo de Heitor (os Troianos); até que uma rainha sacerdotisa há de dar à luz duas crianças: Rómulo e Remo. Rómulo assumirá o poder sobre o povo e dará o nome aos romanos a partir do seu próprio nome => Roma. [[3 + 30 + 300 = 333 anos que deviam ter ocorrido entre a chegada de Eneias e a fundação de Roma]]
Quem está a ler isto já não tem dúvidas qual o mito em que Virgílio se situa. Por outro lado, o autor faz, desde o início, e da boca do rei dos deuses, uma relação entre Eneias e Roma. A razão pela qual escolheu Eneias é clara = relação entre este herói e Roma. Eneias é o antepassado dos romanos. Tem, contudo, de mostrar que Eneias não é o verdadeiro fundador da cidade. Adota a versão do mito que utiliza, ligando Eneias e os romanos. Não pega apenas em Eneias como herói grego - ilustra logo a sua conexão com a fundação de Roma. E, depois, a conexão da fundação e Roma com a Roma atual, a época em que vive.
Virgílio quer ir mais longe através da boca de Júpiter: "às coisas destes, eu não ponho limites nem prazos." ==> Júpiter já não está apenas a fazer a relação entre Eneias e as fundadores míticos de Roma. Faz o herói da sua epopeia mergulhar numa diacronia que vai levar à época em