cultura
Como as sociedades estão profundamente divididas é fácil entender que a Cultura delas só podia mesmo ser contraditória. Por isso, temos, na verdade, diferentes culturas numa mesma sociedade.
A Cultura dos “de cima“ se orgulha de proporcionar aos seus admiradores obras que os “de baixo” nem sempre entendem. A erudição alcançada por muitos intelectuais e artistas, cientistas e políticos tradicionais merece respeito. Porém paga um preço alto por fixar-se freqüentemente em si mesma, limitando-se aos horizontes elitistas da classe dominante.
Já se comprovou historicamente que, nos poucos momentos em que se abriu para o aproveitamento cultural das criações das camadas populares, surgiram obras de arte extraordinariamente significativas, como, por exemplo, na França e na Itália do Renascimento. Os leitores do padre bilontra François Rabelais nunca hão de esquecer as histórias da família de gigantes que ele inventou.
No Brasil, as coisas caminham devagar. Quando as mudanças se tornam imperativamente necessárias, elas vão se fazendo, mas tudo em ritmo lento. Entre os intelectuais ainda se encontram manifestações de desinteresse e desprezo pelos pontos fortes da cultura popular. Mesmo democratas se descuidam e deixam transparecer preconceitos em relação à Cultura dos “outros”.
Os “de cima” deveriam levar em conta a dificuldade que os “de baixo” têm para entendê-los, porém deveriam prestar atenção também na suas próprias dificuldades para entender o que se passa na esfera deles, os “de cima”.
Até certo ponto é bom que os homens acreditem nos valores da cultura particular em que foram criados. É saudável que tenham valores e convicções. O perigo está em exagerarem nas suas crenças e se esquivarem ao diálogo com os outros. Não é raro perceber entre os membros das camadas mais pobres na população certa dificuldade para