Crônica Funk

Fruto da juventude esquecida

Eram dez pras sete da manhã e as ruas de São Paulo já estavam movimentadas, cada um correndo atrás do seu ganha pão. Eu estava no trânsito em uma região nobre da cidade e ao meu lado, tinha um moço dos seus vinte e poucos anos no seu carro rebaixado, ouvindo funk com o som nas alturas. De janelas abertas, que é pra ter certeza que o mundo inteiro – pelo menos num raio de uns vinte metros, por alí – vai compartilhar do seu gosto musical. As pessoas ao redor se sentiram incomodadas e começaram a apertar buzinas e pediam para abaixar o volume do som. Outras colocaram a cabeça pra fora e falavam: “nós não gostarmos desse tipo de música, nem do visual ou de qualquer coisa que venha das favelas”. O rapaz ignorava e curtia o som. No meio daquela confusão, tentei ouvir a letra da música, que dizia assim: “Ostentação, palavra que eu gosto de ouvir. Se me quer do seu lado, tem que me fazer rir. Vem me buscar de Hornet, R1, RR. Me dá condição...Gosto de gastar, isso não é novidade.Hoje eu já torrei mais de dez mil com a minha vaidade”. As letras do funk ostentação falam de luxo, carros caros, marcas de roupas e outras coisas do mundo da ostentação, que praticamente todos ali conheciam e consumiam, mas não admitiam alguém com classe social ou econômica inferior a deles, falassem aquelas marcas nas letras, quem dirá, tê-las. Os sons que vêm das periferias hoje em dia são outros. Antigamente eram de lá que saiam os sambas e depois os raps. O funk ostentação, a último aposta musical das periferias tentam destruir a barreira do consumo das classes altas com as classes baixas. Os moradores querem falar pra quem quiser ouvir, que também podem ostentarem. Não adianta mas esconder essas pessoas que dão origem a esse estilo musical. Eles também querem ter seu espaço na mídia e no mercado de consumo. É a juventude esquecida, dando o recado pra sociedade conservadora. As pessoas ali no trânsito, gostando ou não, tiveram que abaixar a