cronicas

452 palavras 2 páginas
CRÔNICA______________________________________
Rubens da Cunha - Especial para A NOTÍCIA 26.08.2002
O Morador das Palavras

E se ele pudesse morar dentro das palavras? Começou morando na palavra cavalo, gostou de sua elegância paroxítona e desacentuada: de sua quase total leveza. Ficou morando lá pouco tempo porque cavalo é também palavra indócil, dada a galopes, a selvagerias. Viu que não podia morar em palavras que designassem animais. Elas absorvem a personalidade dos bichos, precisava de palavra estática e menos inconstante. Resolveu morar em árvore. Os primeiros dias foram de paz, palavra boa, cheia de vogais e erres curvos. E tinha os verdes: adorava-os. Depois foi cansando, cegando-se em verde. Monotonia. A sua nova casa não ia além do significado. Sempre fixa, o máximo que conseguia de loucura era um vento esparso, acontecido nas madrugadas ou nos finais de tarde. A palavra árvore logo o entediou.
Mudou-se então para pasto. Acreditava que palavra tão curta com significado tão gigante poderia ser um espaço agradável para se viver. Resolveu ficar, mesmo com medo diante de tanto verde. Estava ainda enjoado de verdolências e pasto não conseguia ser de outra cor. Agüentou mais que na palavra árvore. Pasto é verde, mas tem amplidão; traz em si nenhum muro. Pasto sibila liberdade. Ainda assim, não era a casa ideal.
Depois de muito procurar urbanizou-se. Nada de distâncias, larguras. Foi morar em concreto, palavra dura, porém aberta, um tanto áspera, mas em dias violentos bastante segura. E nada de verdes.
Pintou as paredes internas da palavra concreto de lilás e as externas de amarelo. A razão disse-lhe que não combinava: onde já se viu? O concreto ser lilás e amarelo? Pouco ligou. Estava morando em palavras por que precisava ser racional? Além disso, já tinha residido em árvore e pasto, os dois eram verdes conforme a razão. Agora não! Queria concreto amarelo e lilás. Foram de sonhos os primeiros meses. Só que depois, não tinha mais paredes

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