Contrato de Leitura com Intertextualidade do Sermão de Santo António aos Peixes

Intertextualidade
Padre António Vieira, no Sermão de Santo António aos Peixes, faz denúncias de situações socias graves ocorridas na cidade de S. Luís do Maranhão, em 1654, nomeadamente, casos de corrupção e da exploração dos mais frágeis por pessoas da classe dominante. Hoje, 359 anos depois, o Qatar, movido por interesses económicos e políticos dos países europeus que o indicaram como o melhor local para o maior evento de futebol do mundo inteiro, revela-se como o grande peixe que engole e devora a plebe nepalesa, pobre, frágil e sem defesas, para conseguir apresentar o espetacular Mundial de Futebol de 2022. Tanto avanço tecnológico depois, o Homem afinal não aprendeu nada.
Padre António Vieira, acerca do mesmo tipo de exploração, a escravatura dos índios pelos colonos, afirmou: «A maldade é comerem-se os homens uns aos outros, e os que a cometem são os maiores que comem os pequenos (…). […] E não só diz (Deus) que os comem de qualquer modo, senão que os engolem e que os devoram. […] São o pão quotidiano dos grandes; e assim como o pão se come com tudo, assim com tudo e em tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo, nem fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, traguem e devorem.» (Parte IV, Sermão de Santo António aos Peixes).
Por outras palavras mas com o mesmo sentido, é o que TheGuardian afirma: «As alegações sugerem a existência de uma rede de exploração entre as aldeias pobres do Nepal e os líderes qataris. O quadro geral é de uma das nações mais ricas a explorar uma das mais pobres para se preparar para o torneio desportivo mais popular do mundo.» (citação do TheGuardian, a partir da notícia do Público, «Mortes e escravidão ensombram obras no Qatar para o Mundial de 2022», 26/9/2013).