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3784 palavras 16 páginas
As contradições da subjetividade: Americanismo e fordismo em Antonio Gramsci
Roberto Finelli
1. Uma subjetividade em devir
Penso que uma das conquistas mais originais e fecundas do pensamento de Gramsci consiste na definição daquilo que ele entende por subjetividade na sociedade e na história dos seres humanos. A subjetividade que é capaz de ação na história - pensa Gramsci - é só resultado, nunca princípio. E é, como se sabe, o resultado da passagem de um grupo ou de uma classe social desde uma condição desagregada e subalterna a uma condição de iniciativa primeiramente apenas econômico-corporativa, em seguida cultural-política, até o estabelecimento intelectual e moral de uma hegemonia. De fato, na visão gramsciana, uma classe, ou grupo social, tem seu primeiro nível de existência como agente econômico e, como tal, coincide com sua parcialidade de classe ou de grupo, limitando-se à reprodução dos próprios interesses particulares. Num primeiro momento, aliás, cada membro do grupo está de tal modo encerrado em sua particularidade que não alcança sequer uma consciência corporativa da comunhão de interesses que o liga aos outros membros de seu próprio agrupamento. Num tal primeiro nível, por isto, vigora a ausência completa de um sujeito coletivo e se produz um âmbito apenas naturalista, no qual as ações humanas, fragmentadas e enrijecidas em sua particularidade, não são redutíveis a uma vontade humana que possa orientá-las segundo seu projeto. De fato, elas aqui possuem o caráter de fatos objetivos - mais do que de atos - e, como tais, são objeto e matéria de análise apenas das ciências objetivas da natureza (1).

Quando, no entanto, os membros de um grupo social não mais se identificam com sua singularidade atomista e adquirem, primeiro, a consciência de sua homogeneidade de grupo e, depois, a consciência de que seu interesse corporativo pode, e deve, incluir e representar os interesses dos outros grupos sociais, até se combinarem com o interesse de toda a

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