Bioética e Laicidade: reconstruindo pontes entre ciências e humanidades

MARCELO KISTER DE PIETRE
Bioética e Laicidade: reconstruindo pontes entre ciências e humanidades
Marcia Mocellin Raymundo & Daniel Gutiérrez-Martínez

O texto baseia-se nos escritos de Potter frente sua perspectiva de fundamentar uma (inter)disciplina que fosse capaz de promover um diálogo entre as ciências biológicas, as ciências sociais e as humanidades. A esta nova disciplina chamou de Bioética. A tentativa de Potter seria contextualizar um paradigma existencial por parte das novas tecnologias que adivinham de um processo expansionistas frente aos modelos de vida e as políticas públicas quanto ao uso de seres vivos em pesquisas. O aporte essencial de Potter à proposta da bioética foi deixar claro que não existe possibilidade de uma investigação no mundo biológico sem vínculo com o mundo das relações humanas e vice-versa. Em que pese todo o esforço de alguns especialistas em assegurar o caráter amplo e abrangente da bioética, atualmente esta se restringe principalmente às questões biomédicas. Contudo, é preciso entender a visão humanista de Potter que, de forma abrangente, inclui a relação do ser humano com o meio ambiente. Esta relação não deve ser restrita ao individualismo, tampouco cética ao antropocentrismo, mas ao contexto ético que se baseia a sociedade. A vida não se pode dar sem a relação com o outro, portanto, uma ética de vida deve se fundamentar mais na relação entre as pessoas do que na sacralização do indivíduo. Desta maneira a bioética em lugar de consolidar-se como uma disciplina ponte entre diferentes saberes, se transfigura em um espaço de interface que, algumas vezes, se vê apropriado por diferentes campos, os quais adquirem uma roupagem de acordo com seus propositores. Em outras palavras, a bioética estaria atenta a que os saberes que predominam por diversas causas (dominação econômica, cultural, política, religiosa) não sejam os únicos que se estabeleçam como verdades absolutas em detrimento de qualquer outro saber