ARGAN O Tratado De Re Aedificatoria
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Giulio C. Argan - História da Arte como
História da Cidade. São Paulo, Martins
Fontes, 1998
Segunda Parte — ARTE E CIDADE
5. O Tratado "De Re Aedificatoria"
Em 1929, Julius von Schlosser, com um ensaio inspirado na identidade de Croce entre arte e poesia, propunha-se redesenhar, reduzindo seu alcance, a figura de
Leon Battista Alberti, que dominava o quadro histórico da primeira Renascença.
Apresentava-o como o não-artista em comparação com Brunelleschi e Ghiberti artistas, e não o poupava nem mesmo como teórico, perguntando-se se era de fato tal, contrapondo o seu latim humanístico à novidade inclusive linguística da prosa de Leonardo e reduzindo, por fim, a sua "notável personalidade" à de um literato que misturava engenharia e retórica como um amador. Além do mais, ele via em
Alberti o expoente de Roma, caput mundi, por certo, mas culturalmente apenas receptiva, repetitiva e, devido a essa sua inércia criativa, tão diferente da "velha terra toscana, verdadeira terra de artistas". Fazia suas, assim, agravando-as, as mais reticentes reservas de Vasari, para o qual Alberti, apesar ou justamente por causa da sua "ciência e teórica", permanecia um intruso naquela sua história linear do renascimento da arte, que, para ele, só podia ser toscano. A requisitória de
Schlosser revelava o partido tomado, mas servia, de qualquer forma, para dar o tratamento merecido à crítica corrente, ainda positivista e sobretudo preocupada em indicar na variedade dos interesses culturais albertianos o vanguardismo da
Vielseitigkeit de Leonardo, que, no entanto, era o seu contrário, ou quase. Por outro lado, o partido tomado tinha seus motivos: Alberti era tido como o primeiro legislador daquele classicismo que levava de volta ao antigo, a Roma, origem da
Renascença, em que Schlosser, ao contrário, grande estudioso da cultura artística medieval e da arte de corte, via o pleno florescimento de uma tradição.
A reavaliação de