Desde o início da década de 1940, Guerreiro Ramos vinha se dedicando à reflexão sobre a questão nacional brasileira, sob o ponto de vista literário. Nos anos 50, saindo das análises literárias, empenha-se em estudar sociedade brasileira, sociologicamente, quando, então, concluirá: no Brasil, consume-se, de modo abundante, uma “sociologia enlatada”; precisa-se, de modo urgente, de uma sociologia autenticamente vinculada com a realidade do país, que possa lhe servir como instrumento de autodeterminação, pois o momento histórico pátrio, na época, possibilitava ao Brasil a sua afirmação enquanto nação. Foi por está extremamente convencido da necessidade de uma sociologia nacional que Guerreiro Ramos se dedicou à elaboração de um arcabouço sociológico que fosse adequado à tarefa de teorização da realidade brasileira, e o fez tanto por intermédio de instituições, entre elas o ISEB, quanto solitariamente, quando deste instituto se afastou permanentemente, em 1958. A partir deste ano, Guerreiro Ramos decidiu enveredar pelas trincheiras da política partidária, conseguindo chegar à Câmara de Deputados Federais em agosto de 1963, na condição de suplente de Leonel Brizola, ambos representando o Estado da Guanabara. Foi um mandato curto. Em abril de 1964, teria o seu mandato cassado pelo Governo Militar, por meio do Ato Institucional n. 04. Das setenta e uma vezes que subiu na tribuna, abordou um conjunto variado de temas. O Brasil era, de longe, o tema recorrente. Este percurso parlamentar de Guerreiro Ramos é mais um dos muitos aspectos de sua trajetória que os vários estudos sobre a sua obra ignoram. Neste texto, procuraremos descrever a breve trajetória parlamentar deste sociólogo, com o intuito de enfocar, de modo exploratório e livre, a relação entre o intelectual e o político. Os principais objetos desta investigação serão, principalmente, os seus discursos na câmara, mas, também, recorrer-se-á a algumas notícias e reportagens vinculadas na imprensa, na época.
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